Artigo retirado, com autorização, do site Aquarismo Paulista e escrito por Solange Nalenvajko em Fevereiro de 2019.
Mário Quintana tem uma frase da qual gosto muito: “Para os peixinhos do aquário, quem troca a água é Deus”. E basicamente é o que somos para nossos peixes, deuses. Mantemos seu ambiente estável e salubre, os alimentamos, suprimos suas necessidades. Viverão bem ou mal conforme as condições que oferecermos a eles.
Por essas e outras é que o aquarismo hoje é um hobby fortemente ligado ao estudo e pesquisa. Quanto a nós que apenas mantemos aquários domésticos, o aquarismo torna-se fonte tanto de momentos de tranquilidade e relaxamento como de conhecimento. Aliás, quanto mais conhecemos nossos peixes melhor podemos atender suas necessidades, mais saudáveis eles serão e menos problemas e gastos inúteis ou desnecessários nós teremos.
Sejam bem-vindo a este maravilhoso mundo das águas.
Certo, você decidiu ter um aquário. A pergunta relevante é: onde montá-lo? Um aquário de 15 litros para um peixe betta (Betta splendens) é fácil trocar de lugar, mas se escolheu começar com um de 80, 100 litros, a coisa já fica complicada.
Não parece, mas a escolha de um bom local pode facilitar muito sua vida.
Que todos gostam do que é bonito é inegável, mas a principal preocupação deve ser se ele suporta com segurança o peso do aquário montado. Voltando ao exemplo anterior, um aquário de 100 litros pode pesar tranquilamente 150 kg somando-se o peso do vidro, água, substrato, ornamentos como troncos e rochas, além de equipamentos.
Além da disponibilidade financeira e de espaço, basicamente o que define o tamanho do aquário é a fauna que deseja manter. Para quem está começando, talvez a maneira mais fácil para planejar uma boa montagem seja perguntando a si mesmo quais peixes quer ter. Por exemplo, um aquário para kinguios (Carassius auratus) terá uma montagem diferente de um aquário cujo foco seja tetras foguinho (Hyphessobrycon amandae) e as diferenças mais evidentes serão com relação ao tamanho do aquário e a escolha do filtro mais adequado. Assim, para montar um bom aquário sem desperdício de dinheiro ou frustrações futuras é importante conhecer os peixes que deseja manter.
Agora é importante saber que há vários peixes que não podem viver aí a exemplo de disco, bandeira, kinguio, oscar, botia, entre tantos outros, já que são peixes de maior porte ou territorialistas ou necessitam de grupo, enfim, inadequados para aquários de pequeno volume. A melhor opção será por peixes de pequeno porte e sem excesso de indivíduos.
Não. Apenas lembre que aquários muito pequenos restringem bastante a escolha da fauna e o número de peixes que podem viver com conforto no espaço disponível, além de serem mais difíceis de manter em relação à estabilidade física, química e biológica. Pense em no mínimo 30 litros. Algo entre 50 e 70 litros será melhor ainda, pois permite uma fauna maior e mais diversificada.
As medidas do aquário são dadas em centímetros e sempre nesta ordem: comprimento, largura e altura. O volume em litros é calculado através da seguinte fórmula:
(comprimento x largura x altura) / 1000
Volume bruto ou nominal: é o volume total de água que o aquário comporta estando vazio (sem substrato, rochas, troncos, enfeites, equipamentos). Usando o exemplo anterior, o volume bruto é de 52,5 litros.
Volume real ou efetivo ou líquido: é o volume de água que o aquário realmente comporta depois de colocados substrato, rochas, troncos, etc. Para ter uma ideia aproximada deste valor, costuma-se subtrair 15% do volume bruto. Voltando ao exemplo anterior:
52,5 litros x 15% = 7,8 litros
52,5 litros – 7,8 litros = 44,7 litros (volume real)
Lembre sempre que este é um cálculo aproximado.
Estas são duas expressões que ouvirá/lerá muito quando se tratar de aquários plantados, então é importante que conheça o significado.
De maneira bastante simples, o aquário de baixa manutenção (ou low tech) é aquele que dispensa equipamentos sofisticados e um esquema forte de fertilização. É uma montagem que pode abrir mão de substrato fértil, iluminação potente e injeção de gás carbônico, além de necessitar de menores quantidades de fertilizantes. Já o aquário de alta manutenção (ou hight tech) exige um maior investimento em equipamentos (basicamente iluminação e injeção de gás carbônico) além do investimento em testes químicos, substrato fértil e um forte esquema de fertilização.
Para quem está iniciando no aquarismo, aquários de baixa manutenção são uma ótima porta de entrada. Há facilidade em encontrar plantas nas lojas e várias a preços bastante acessíveis. A manutenção é simples e ocupa pouco tempo, inclusive pela necessidade reduzida de podas. O gasto de energia elétrica também é menor pelo fato de tais plantas não necessitarem de iluminação potente.
O filtro
Considere o filtro o equipamento mais importante do aquário. Ele será o responsável pela manutenção da boa qualidade da água, então a regra de ouro é gaste bem para gastar uma vez só. Não são raros os casos em que iniciantes costumam poupar na hora da compra, o que significa comprar um equipamento inadequado que não atenderá a necessidade do aquário e precisará ser substituído em pouco tempo. Insisto: gaste bem para gastar uma vez só.
- Volume
do aquário. Quando compramos um filtro, em suas especificações encontramos o
item vazão, que significa quantos litros o filtro é capaz de circular em uma
hora. Normalmente uma vazão entre cinco e dez vezes o volume do aquário por
hora é o suficiente para manter a qualidade da água. Por exemplo, se o
aquário possui 50 litros, um filtro com vazão entre 250 litros/hora e 500
litros/hora será adequado.
- Peixes
de pequeno porte não representam maior problema quando o assunto é filtro, mas
os de médio porte e principalmente os de grande porte pedem uma consideração
especial na escolha deste equipamento já que produzem uma carga orgânica grande
tanto de fezes como de amônia.
Filtros externos são os que ficam fora do aquário e os mais utilizados são o hang on, canister e sump. Hang on são aqueles que ficam pendurados no vidro traseiro do aquário. Possuem um preço razoável e são uma boa escolha para aquários de até 100 litros e fauna composta por peixes de pequeno porte. Para aquários acima deste volume o canister passa a ser a opção mais eficiente de filtragem e também o sump, principalmente para aquários de maior volume (considere a partir de 300 litros) e peixes de grande porte.
- Verifique o consumo de energia. Filtros equivalentes de diferentes marcas possuem consumos diferentes e isto reflete na fatura de energia elétrica. Um exemplo? O canister Atman AT 3337, vazão de 1000 l/h, tem um consumo de 30W; o JBL Crystalprofi Green Line 901e, vazão de 900l/h, tem um consumo de 15W; um canister Jebo 835, vazão de 1000 l/h, tem um consumo de 22W.
- Verifique a disponibilidade de peças de reposição. Como qualquer outro equipamento, filtros também correm o risco de estragar com o uso e necessitar de substituição de peças. Pergunte ao lojista sobre a disponibilidade de peças.
- Um filtro, por melhor que seja, não elimina a necessidade de manutenção do aquário com trocas parciais de água e sifonagem do substrato.
- Filtros também precisam ser limpos e a periodicidade desta manutenção é basicamente determinada pelos peixes que você tem. Um sinal de que está na hora de fazer isto é quando a vazão do filtro começa a diminuir.
- Filtros devem permanecer ligados 24 horas por dia, 7 dias por semana, 4 semanas por mês, 12 meses por ano. A única ocasião em que ele deve ser desligado é quando estiver fazendo a manutenção do aquário.
- A princípio não existe filtro ruim, apenas filtro que não atende a necessidade de seu aquário. Considere como um filtro realmente ruim aquele feito com materiais de baixa qualidade, que apresentam índice de ruído elevado, que vazam repetidamente.
Mídias filtrantes são aqueles materiais que estão dentro do filtro e são responsáveis pela filtragem física, química e biológica da água do aquário. Assim como o filtro é o equipamento mais importante, a filtragem biológica é também a mais importante para o aquário e já veremos o porquê.
Mídias para filtragem física: Também chamada de filtragem mecânica, tem a função de reter partículas sólidas (restos de ração, pedaços de folhas mortas, fezes) que ficam em suspenção na água. Os materiais mais usados para isto são o perlon – também conhecido como manta acrílica – e espumas próprias para aquário. Espumas são enxaguadas e reutilizadas; o perlon pode ser descartado ou lavado e reutilizado, conforme o grau de saturação entre uma manutenção e outra. Fica basicamente a critério do aquarista.
É importante salientar que a filtragem química deve ser olhada como uma opção do aquarista e não uma obrigação. Aquários com grande densidade de plantas costumam dispensar a filtragem química; já para aquários com poucas ou nenhuma planta esta filtragem torna-se bastante interessante.
Para filtros de pequenas dimensões (caso dos hang on), prefira mídias biológicas de tamanho mini.
É o equipamento que permite manter a temperatura da água estável, evitando que a mesma fique abaixo daquela determinada pela regulagem feita.
Normalmente indica-se que a potência seja de 1W/l, mas se a região em que mora o frio é mais rigoroso ou há grande variação térmica no dia ou entre um dia e outro, é mais seguro optar por uma conta de 2W/l.
Para instalação deste equipamento, siga as recomendações do fabricante. Prefira mantê-lo em posição vertical e com o cabeçote de regulagem acima do nível d’água. Coloque-o em local com boa circulação de água para que o aquecimento seja mais eficaz. Não se esqueça de comprar um termômetro para conferir a temperatura.
Iluminação.
Iluminação em LED, bastante utilizado atualmente devido sua eficiência e baixo consumo |
A iluminação tem basicamente duas funções: promover o crescimento
das plantas e dar aos peixes a noção de dia e noite (atividade e repouso). O
número de horas que as lâmpadas permanecem ligadas chama-se fotoperíodo e a
recomendação usual é que ele seja de oito a dez horas por dia. Usar um timmer
facilita bastante o controle do período de funcionamento da iluminação.
Em geral, as
lâmpadas utilizadas para iluminação de aquários são as fluorescentes (tubulares
e compactas) e leds. Destas, existem as de uso comum (as que temos em nossas
casas, por exemplo) e as específicas para aquários.Anteriormente tínhamos uma referência para definir a quantidade de luz necessária e que era dada pela relação Watt/litro. Considerava-se uma iluminação fraca aquela com até 0,5W/l, média entre 0,6 a 1,0 W/l e alta acima de 1,0 W/l. Com o tempo este referencial caiu em desuso e hoje deixamos de considerar a potência da lâmpada (Watt) para considerar o fluxo luminoso emitido por ela (lúmen). Então temos como referencial para uma iluminação fraca 30 lm/l, média 60 lm/l e alta 90 lm/l.
Watt (W). Energia elétrica por unidade de tempo consumida por uma lâmpada.
Substrato
Substrato é o material colocado sobre o fundo do aquário e que possui as funções de base para fixação das raízes das plantas, nutrição destas plantas e estética do aquário. Dividem-se em dois grupos: inertes e férteis.
Substrato de cascalho, bastante utilizado em aquário |
Grande parte dos substratos inertes é neutra, ou seja, não altera
o pH da água. Fique atento aos substratos de origem calcária como halimeda,
aragonita e dolomita, pois estes contribuem para o aumento do pH tornando a
água alcalina. São mais utilizados em aquários marinhos e de ciclídeos
africanos, onde um pH elevado é necessário para o bem estar dos animais.
Nota. Evite as famosas “pedrinhas coloridas”. A substância usada para tingir este material costuma diluir na água, sendo nociva em algum grau para os peixes. Previna-se de problemas desnecessários.
Testes são fundamentais. São eles que nos informam as condições da água e, portanto, sua qualidade. Há vários testes de diversas marcas, mas os que jamais devem faltar são os de pH (potencial hidrogeniônico), amônia e nitrito, parâmetros que devem ser conferidos uma vez na semana. Se puder investir mais um pouco, os testes de KH (dureza de carbonatos) e GH (dureza geral) são de grande valia.
Mas preciso mesmo ficar testando a água? À medida que nosso conhecimento aumenta e temos um tempo maior de convivência com o aquário, não é raro que um dia a gente passe por ele, pare, olhe e pense assim: tem alguma coisa errada aí. Mas é impossível pensar: nossa! O pH caiu para 6,0, tem 2,5 ppm de amônia e 1,0 ppm de nitrito! Isto, só os testes nos dizem.
Condicionador de água
As plantas retiram da água ou do substrato (fértil, neste caso) os elementos que necessitam para sua manutenção, crescimento e reprodução e fazem isto tanto através das folhas quanto das raízes. Por isso, mais cedo ou mais tarde, visando seu bom desenvolvimento, investir em fertilizantes líquidos ou em pastilhas (que são enterradas no substrato) se torna necessário.
Aquários densamente plantados ou com plantas exigentes demandam uma fertilização mais robusta do que aquários com poucas plantas ou plantas de baixos requerimentos.
Vão desde redes, pedras porosas, bolsas para mídias, sifões para limpeza do substrato, termômetros, limpadores magnéticos para os vidros, diferentes pinças para plantio e tesouras de poda, raspadores de algas, até difusores de CO², entre outros produtos. A função básica destes diversos itens é a de facilitar a vida do aquarista principalmente no que se refere ao serviço de manutenção do aquário.
Rochas e troncos naturais são os itens mais utilizados. Há também as plantas artificiais e uma série de ornamentos confeccionados em resina e próprios para uso em aquários.
Produtos disponíveis no mercado é o que não falta! Incentivadores de biologia, redutores de dejetos orgânicos, tamponadores, corretivos de GH, elementos traço adequados para determinados peixes, clarificantes de água, anti-algas, são só alguns exemplos do que há para ser vendido. Antes de sair comprando, verifique a real necessidade do produto para seu aquário.
Um belo cardume de discos |
Contamos hoje com uma grande variedade e disponibilidade de peixes
ornamentais. Entramos na loja, começamos a olhar e a vontade que dá é comprar
de tudo um pouco e colocar no aquário. Muita calma nesta hora. Para seu próprio
benefício, controle-se. Quando o assunto é peixe, a regra de ouro é conheça o
que está comprando antes de comprar. Isto nos salva de frustrações e problemas
desnecessários, além da possibilidade de morte dos animais.
Parâmetros físico-químicos da água: Todos os peixes vivem bem dentro de certos intervalos de temperatura, pH e dureza de água (intervalo de conforto) e você deve oferecer isto em seu aquário. Ao longo do tempo, manter peixes fora destes intervalos de conforto tem como consequências uma menor expectativa de vida, redução nas taxas de crescimento e fecundidade e queda da imunidade.
Ciclagem é o período de tempo necessário para que as bactérias nitrificantes povoem as mídias biológicas tornando o aquário próprio para a introdução da fauna. Este período de tempo pode variar entre duas a seis semanas, sendo que o habitual é que esta fase se encerre em quatro semanas.
Há diferentes maneiras de “fazer a ciclagem”, entenda isto como uma escolha. Faze-la da maneira A não significa necessariamente que a maneira B, C ou D sejam erradas, são apenas diferentes. O diferencial entre escolher uma ou outra está no tempo em que este processo se encerra, produtos utilizados, custo financeiro e robustez das colônias de bactérias formadas.
- montar o aquário e deixa-lo funcionando sem peixes por um período de quatro semanas sem adição de nenhum produto;
- montar o aquário e adicionar amoníaco durante o tempo de ciclagem;
- montar o aquário e adicionar produtos conhecidos como incentivadores ou aceleradores debiologia.
Embora não vejamos, nossos aquários são habitados por outros seres vivos além dos peixes. As bactérias – e aqui falamos principalmente das nitrificantes – são importantíssimas para a manutenção da qualidade da água e consumo de compostos tóxicos aos peixes, basicamente amônia e nitrito.
Vamos ver isto de uma maneira bastante simples. Você montou um aquário. Substrato, ornamentos, plantas, água, instalou os equipamentos, ligou tudo na tomada e assim inicia-se o período de ciclagem.
Quando isto acontece a amônia passa a não ser mais detectada na água (o teste indica zero) e uma nova substância começa a se acumular: o nitrito. Menos tóxico que a amônia mas também bastante prejudicial aos peixes, o nitrito será oxidado por outros gêneros de bactérias nitrificantes e deste processo resulta um resíduo final, o nitrato, que é cumulativo no aquário.
Ao final deste processo resta o nitrato, que é tóxico aos peixes quando em grande quantidade. Por isso, ao final da ciclagem, fazemos uma troca parcial de água (tpa) de 40~50% para diminuir seu nível na água. Daqui para diante o aquário está seguro para a colocação da fauna (prefira colocar poucos peixes por vez a intervalos de alguns dias para que as colônias de bactérias nitrificantes tenham tempo de se adaptarem ao novo patamar de carga orgânica).
E como saber se de fato a ciclagem está acontecendo? Através de testes. Pode fazê-los a cada três ou cinco dias, já terá uma boa ideia da fase em que a ciclagem está. De maneira geral, em duas semanas já haverá ocorrido o pico de amônia e o teste indicará amônia = zero, e nas próximas duas semanas ocorrerá o mesmo com relação ao nitrito.
Sifonando o aquário, método mais comum de manutenção no aquário |
É simplesmente a série de rotinas necessárias com a finalidade de
manter o aquário com as condições adequadas para sustentação da saúde dos
peixes e plantas existentes nele. Tais rotinas basicamente incluem troca de
água com sifonagem do substrato, poda de plantas e retirada de folhas mortas,
limpeza de vidros, troca de mídia de filtragem física (perlon) ou sua limpeza
(caso use espuma), necessidade de troca de carvão ativado ou renovação da mídia
filtrante sintética. Com relação às mídias biológicas, havendo muitos detritos,
as mesmas podem ser enxaguadas na água retirada na tpa.
Antes de iniciar a manutenção sempre desligue os equipamentos. Faça também os testes básicos conferindo pH e a eventual existência de amônia e nitrito.
A rotina de manutenção pode variar de aquário para aquário tanto com relação à periodicidade como volume de água trocado e manutenção do filtro. Um aquário com muitas plantas e poucos peixes tem exigências diferentes de outro que comporta peixes jumbos, por exemplo.
E sempre faça os testes básicos. Água cristalina não é sinônimo de inexistência de amônia e nitrito.