ENTREVISTA #01 - Eduardo Starling - Aquarismo para Todos


PERGUNTAS DO BLOG

1. Fale um pouco sobre você. Natural de onde? Atualmente reside em qual cidade? Qual sua profissão? 
EDUARDO STARLING: Meu nome é Eduardo, tenho 49 anos e sou natural aqui do Rio de Janeiro e sempre morei aqui (salvo 1 ano ou outro em trânsito, a trabalho, e muitas férias em Brasília-DF). Sou formado em Administração de Empresas, após quase embarcar em Biologia Marinha e em Tecnologia da Informação. 
 
2. Como e quando começou no aquarismo? 
Conte resumidamente sua trajetória. 

EDUARDO STARLING: O mais difícil com certeza vai ser resumir rs. Meu primeiro contato com o aquarismo foi quando eu tinha pouco menos de 10 anos, e meu irmão mais velho resolveu colocar um aquário no nosso quarto. Era o tamanho mais padrão da época (50x30x30), mas que hoje seria considerado pequeno. A primeira experiência foi igual a de muitas outras pessoas: chega na loja, compra aquário, cascalho, filtro biológico de fundo, luminária e, já que está aqui, leva esse anti-cloro e os peixes. Pinga, espera 15 minuto e pode soltar. Pobres almas, mais da metade sobreviveu, mas não era a regra. Desde então eu fui me interessando e aprendendo tudo que podia sobre aquele pequeno mundo subaquático, e com 13 anos eu já tinha lido uns 5 livros sobre o assunto (a maioria do Gastão Botelho, grande referência do aquarismo nacional). De lá pra cá nunca deixei de ter aquários, e venho tentando me manter informado sobre a evolução do hobby: primeiro em revistas (inclusive a minha predileta, a Tropical Fish Hobbyist, do saudoso Dr. Herbert Axelrod), depois sites, forums e agora canais youtube e grupos whatsapp 



PERGUNTA DOS SEGUIDORES 
 
Thiago, São Paulo/SP - @sevendiscus 
Eduardo como e quando surgiu a ideia do podcast? 
EDUARDO STARLING: Estávamos no auge da pandemia, meados de 2020. Eu tinha um aquário "maiorzinho" (125 litros) montado há 1 anos, que só não era plantado high tech porque eu estava receoso de colocar CO2. Tinha o meu primeiro acará disco que eu posso dizer que estava saudável (embora estivesse só ele + alguns neons, rodóstomos e peixes de fundo). Eu seguia tateando por mais informação, pois queria ter mais discos. Nesse meio tempo, um amigo estava montando aquário para curtir com os filhos, sabia que eu era aquarista e me mandava áudios enormes com dúvidas. Eu respondia com outros áudios enormes, com aquilo que eu achava que fazia sentido pela minha experiência de tentativa e erro no aquarismo em algumas décadas. Felizmente todas as dicas ajudaram, e ele hoje tem até mais aquários do que eu. Como ele é podcaster, colocou muita pilha pra que eu fizesse um podcast para compartilhar conhecimento. Eu até então nem achava que tinha esse conhecimento (continuo achando que não tenho), mas por ter vivido muita coisa no hobby ao menos eu podia ajudar quem está começando e desmistificar umas coisas do aquarismo que afasta muita gente, principalmente "aquário é muito caro", "aquário dá muito trabalho" e "aquário é muito difícil".
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William, Guarulhos/SP - @aquarismoguarulho2550 
Como manter um aquário de 20 litros estável. 
EDUARDO STARLING: Isso é algo que eu venho batendo na tecla ao longo das duas temporadas do podcast: para ter estabilidade em um aquário, é preciso saber como ele funciona, considerando fauna e flora. A estabilidade num aquário maior é bem mais fácil porque a margem de erro é muito maior em função do volume de água. Num aquário de 20 litros, recomendo ciclar o aquário sem pressa (especialmente se tiver plantas), usar um filtro superdimensionado (via de regra, com vazão de 10x o volume do aquário por hora) e evitar ao máximo superpopular com animais (em especial peixes). Essa eu respondo tranquilo, porque está sendo um exercício pra mim, no aquário nano da minha filha.
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Thabner Melo, Birigui/SP - @meumundoaquarismo 
O que fazer para combater a Cyanobacteria, fiz o uso de medicamento, mais voltaram. 
EDUARDO STARLING: Aqui vale dizer que a cyanobactéria é o efeito. Se você só usar o medicamento sem tratar a causa, elas voltam. Em geral aparecem em aquários com grande quantidade de matéria orgânica dissolvida na água e uma circulação pobre. Aí as cianos vão fatalmente se firmar nas áreas com baixa oxigenação. Recomendo antes de mais nada reforçar as trocas parciais e resolver essa questão de circulação. Aí vai depender do volume do aquário, da filtragem, da fauna, etc.
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Diogo, Poá/SP - @fishroom_oliveira 
Porque no aquarismo de água doce é pouco discutido a TPA com água de RO?  
EDUARDO STARLING: Aí é uma questão da qualidade da água que temos aqui no Brasil. Em geral (pelo menos nas grandes capitais), recebemos uma água com pH perto de 7 ou ligeiramente alcalina, e com baixa mineralização. Assim, a água de reposição não costuma ser um problema, e você pode resolver o pH dos aquários conforme a fauna de outras maneiras, a depender da proposta. Água de RO só é um item mandatório quando você monta um aquário de água ligeiramente ácida ou até um amazônico, e aí precisa de uma água bem mole (baixa mineralização) mas nas torneiras recebe uma água dura e com pH alto. Isso costuma acontecer por aqui com quem tem água de poço artesiano, mas é uma realidade corriqueira para europeus e americanos. Por isso, lá é bem mais comum usar água de RO e produtos para mineralizar a água conforme a proposta.
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Cássia, São Paulo/SP - @acolheoncologia 
Lebiste brigão em aquário 42L com 6 molis e 2 lebistes machos. Caso perdido ou falta espaço? 
EDUARDO STARLING: Acho que neste caso é espaço, sim. Em aquário deste tamanho eu escolheria só lebistes ou só as molis. Se optar pelos lebistes, eu colocaria 2 fêmeas para cada macho, senão a agressividade pode continuar. Tem bastante tempo que não tenho aquários só de lebistes, mas acho que é por aí ainda.
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Barbara, Cariri/SE - @barbvetcariri 
Como saber o momento de introduzir na beteira a femea? 
EDUARDO STARLING: Bom, neste caso eu espero que não seja literalmente uma beteira (esses aquários de menos de 2 litros que são vendidos para bettas). Isso é relativamente comum nas lojas, mas de fato nessa beteiras o peixe não vive, ele SOBREvive. Não sei se é o seu caso. Se a ideia é reproduzir bettas, a hora de colocar a fêmea é quando o macho já tiver construído um bom ninho de bolhas e a fêmea estiver com as barras laterais bem visíveis e ovopositor pra fora (um 'botãozinho' amarelo embaixo do ventre). Alguns criadores colocam a fêmea num aquarinho ao lado do aquário do macho para estimular.
 
Pongi (pergunta veio através do blog) 
Pode falar sobre mitos/verdades ou benefícios/perigos de usar carvão ativado direto no filtro. 
EDUARDO STARLING: Carvão ativado é algo que era considerado item obrigatório nos anos 80/90 mas que vem caindo em desuso de uns tempos pra cá. Não sei exatamente os mitos acerca do carvão ativado, mas sei que ele absorve muita coisa da água - algumas desejáveis pelos aquaristas, outras não. Eu prefiro usar outras resinas para purificação da água, mas o carvão funciona numa boa. Só não recomendo para quem tem plantado high tech, pois o carvão retira nutrientes consumidos pelas plantas. Recomendo também retirar do filtro quando for fazer algum tratamento em peixes no comunitário (como por exemplo tratamento de ictio), senão o carvão vai absorver o medicamento.
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Renan, Rio de Janeiro/RJ, Bairro Laranjeiras - @renanpedrot 
Se é possível fazer casais e procriar discos em casa e como identificar um casal? 
EDUARDO STARLING: Com certeza é possível, mas reproduzir discos em casa é algo que exige muita dedicação. Discos não tem dimorfismo sexual (ou seja, diferenciação física aparente de machos e femeas), para separar casais você tem que ter o cardume no aquário (a partir de 6 indivíduos) e observar os casais se formarem. Ainda assim, você só tem como cravar certeza de quem é macho e quem é fêmea no momento da desova. Identificando os casais, ideal separar o casal em um aquário específico e caprichar nas trocas parciais. Criadores em geral fazem trocas de água diárias de cerca de 50% do volume do aquário.
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Carol, Rio de Janeiro/RJ - @carolbentosreef 
1- Você misturaria Discos Selvagens com Híbridos? 
2- Como você vê o futuro próximo do aquarismo marinho com o eminente branqueamento em massa de corais e mortandade de peixes devido ao El Ninho, cuja previsão é que seja o com as piores consequências de todos os tempos? 
EDUARDO STARLING: Pergunta composta, resposta em partes: 
Já misturei híbridos e selvagens. Eu prefiro deixar separados, pois tem comportamentos bem distintos (os selvagens são mais sensíveis à iluminação e mais ariscos para comer, dentro do pouco de experiência que tenho com discos). Ainda quero fazer outra tentativa de misturar selvagens com os meus, mas só quando tiver um aquário maior 
Estou afastado do aquarismo marinho há alguns anos (meu último eu desmontei no início da década de 90), mas já considerei montar de novo várias vezes. Venho acompanhando de longe a evolução do aquarismo marinho, e é incrível o que é possível ter em casa em termos de vida dentro de casa, em especial os corais. Acho que um futuro apocalíptico para os nossos oceanos pode significar que algumas espécies de corais só existam em cativeiro daqui a algumas décadas. Se o homem conseguir reverter o aquecimento dos oceanos, pode ser a chave da retomada da vida. Ou isso sou eu tentando ver o copo meio cheio, sei lá.  
 
Debora, Vila Velha/ES - @podersubmerso 
O que fazer para combater as algas filamentosa do aquário marinho   
EDUARDO STARLING: Ocorrência de algas em aquários marinhos não era uma coisa tão catastrófica quanto nos aquários de água doce na época que eu tinha marinho. Não sei como anda isso hoje. Eu tendo a entender que isso se resolve com trocas parciais e/ou inserindo algum animal que come algas, mas não consigo ir muito além disso na minha resposta, infelizmente.



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Gostaria de agradecer imensamente ao Eduardo pela oportunidade de estarmos estreando esse quadro de entrevista com ele e poder estar aprendendo muito com a sua vasta experiencia.
E claro, sou muito gratos a todos que mandaram suas perguntas, o que demonstra a confiança e credibilidade que cada um de vocês depositam no projeto Tô Aquariando.

Deixe no comentário quem você gostaria de ver sendo entrevistado aqui na próxima entrevista.

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