No texto anterior, falei da minha segunda grande investida em ter discos e de algumas lições aprendidas. Após a obra aqui em casa eu fiquei sem espaço para ter um aquário grande, e aí partimos para um menorzinho (30 litros) com guppies. Penamos bastante com ele, pois era um all in one fabricado na China que tinha uma luminária fraca e um filtro ineficiente (mesmo para uma fauna diminuta). Chegamos a trocar a fauna para fêmeas de betta, mas mesmo assim faltava alguma coisa. Minha filha nessa época já estava 100% convertida ao aquarismo e nos pedia um aquário maior.
Fomos então pelo conselho que eu sempre dou para quem quer montar um aquário: planeje de acordo com o espaço que você tem em casa. Em determinado ponto, vimos que cabia um aquário de cerca de 80cm, mas para não ser um grande trambolho caso desse errado, parti para montar um de 70x45x40cm, seguindo um mindset antigo de comprar aquário + móvel + tampa de madeira. Ainda não estava com discos no radar, mas estava com todas as lições aprendidas passadas na cabeça: investir em melhores produtos e em estabelecer uma rotina de manutenção para não deteriorar a qualidade do sistema. E aí nasceu um aquário com substrato fértil, rodando filtro canister (pela primeira vez, pois eu sempre apelava para os filtros mais em conta) e automatizando tarefas corriqueiras como o fotoperíodo (tempo que as luzes ficam acesas).
Conseguimos vencer a ansiedade e deixamos o aquário rodando só com plantas por 1 mês, para uma ciclagem tranquila. No dia de comprar os peixes, fomos eu e minha filha comprar os primeiros habitantes. Ela não se lembrava do aquário anterior, então posso dizer que no caso dela os acarás disco foram paixão à primeira vista. Saímos da loja por um par (não me arrisco a dizer que era um casal, apesar do lojista dizer o contrário) e alguns corydoras e otocinclus. Compramos a mesma ração dada na loja, uma das melhores rações importadas do mercado. Mas aí a efetividade ficou em 50%: um dos discos já começou a pegar ração no dia seguinte, o outro repetiu experiências anteriores e morreu com 20 dias. Talvez o sucesso com o sobrevivente (que ganhou o nome de Manuela) tenha apagado pra nós o trauma da perda. Tentamos colocar outro disco, mas Manuela “não aceitou”: perseguiu o quanto pôde o outro disco, e eu resolvi devolver para a loja após 14 dias. Veio a pandemia, acessos restritos e tal, e o plantado com 1 disco (e mais alguns neons e peixes de fundo) estava sendo uma das jóias no nosso confinamento. Mesmo assim, eu queria entender qual a lição que eu não tinha aprendido sobre o acará disco.
Nesse período, consegui contato de uma loja que estava atendendo via whatsapp e entregando com motoboy ou outros serviços de aplicativo. Por sorte, é uma pessoa que enorme experiência com criação de acarás disco, e que felizmente teve humildade e paciência para dar as informações que me faltavam:
O acará disco é um peixe gregário, gosta de viver em cardumes de no mínimo 6 exemplares. Com menos que isso, ocorrem disputas entre eles, onde o mais forte prevalece e o mais fraco para de comer e eventualmente morre.
Em função da característica acima, os aquários devem ter volume d’água que comporte os peixes adultos (ainda que você só tenha exemplares jovens), especialmente porque quando bem adaptados são peixes que comem literalmente o dia inteiro se você deixar
Acarás disco gostam de água mole (kh/gh baixo) e nova (com pouca matéria orgânica dissolvida), logo é importante potencializar a filtragem e caprichar nas trocas parciais de água
Ao contrário do que eu acreditava desde adolescente, não é um peixe que precisa de densa vegetação no aquário. É inclusive bastante comum aquários de acará disco sem substrato e com mínima decoração (bare bottom).
A partir daí, desenhamos em família um projeto de aquário pensado desde o início neste peixe, sem dar tanta importância a iluminação nem a ter substrato fértil, com apenas umas poucas pedras e um tronco, e muita água para eles nadarem. Assim nasceu meu atual aquário de 90x50x50cm, com filtragem superdimensionada (dois canisters parrudos, sendo que cada um deles sozinho consegue dar conta do aquário) e no fundo areia branca bem fina. Manuela após 1 ano e meio de solidão ganhou outros 4 companheiros de cardume. A manutenção virou uma rotina prazerosa que não toma muito tempo, e passamos a oferecer uma alimentação bem variada (ração em flocos e bits, patê congelado e artêmia viva). Com isso, Manuela ficou conosco por um pouco mais de 3 anos e hoje temos um cardume de 9 discos, de cores e tamanhos variados, estando o mais antigo há 3 anos conosco.
Poderia dizer que terminou minha jornada com eles? Até poderia, mas nesses últimos anos eu vejo que a gente nunca para de aprender sobre esses peixes. Conheço criadores que dizem sempre ter algo a aprender após 15 anos só com essa espécie, e quem sou eu pra contrariar? A jornada continua, mas ao menos agora entendo o básico que este belíssimo peixe precisa para viver, e tento ajudar ao máximo que outros aquaristas aprendam o caminho das pedras em muito menos tempo do que eu.