O que eu preciso monitorar no aquário?

Uma das principais dúvidas dos aquaristas iniciantes normalmente paira sobre os parâmetros do aquário. Essa questão há muitos anos é um verdadeiro dogma do aquarismo, e acaba constituindo um mantra repetido por muitos como fatores essenciais, muitas vezes sem fazer uma reflexão mais profunda quanto a necessidade ou atualizar o entendimento à luz do desenvolvimento do hobby nos últimos anos. Como eu já vejo esse assunto indo e vindo há pelo menos 30 anos (talvez mais), acho que vale um dedo de prosa aqui no Tô Aquariando sobre isso.

Desde lá atrás, quando comecei, sempre se falou de 2 grandes fatores para se observar: temperatura e pH. Com isso, os peixes à venda eram categorizados pela temperatura (fria e quente) e pelo pH (ácido ou alcalino). O pH 7 era o nirvana inalcançável. Logo, 9 entre 10 lojistas já te colocavam aquela pulga atrás da orelha e, olha que venda bacana: anticloro, termômetro, aquecedor, teste de pH, acidificante e alcalinizante. Na minha cabeça de adolescente e entusiasta do aquarismo, os quadrantes estavam muito bem definidos e deixar o aquário mudar de situação era um crime imperdoável.

Passados alguns anos e muita literatura (e conversas em fóruns de internet), fui finalmente entender o ciclo do nitrogênio no aquário. As coisas faziam mais sentido, mas de quebra eu ganhei mais coisas para me preocupar: amônia (NH3), nitrito (NO2) e nitrato (NO3). E quando eu pensava que estava já por dentro de tudo que acontecia no meu aquário, descubro a dureza geral (DH) e a carbonatada (KH). Na minha condição de eterno iniciante de aquarismo (ao menos eu achava isso), me agarrei a temperatura e pH, confiei que a companhia de águas aqui da minha cidade entregava uma água mole e deixei para confiar no ciclo do nitrogênio sem usar testes. Por muitos anos fui tocando assim, mas com um ou outro caso de difícil explicação onde perdia um peixe aqui, outro não comia bem ali, e vida que segue. 

Hoje nem tenho mais cara de pau de me assumir como eterno iniciante, mas ainda que tenha aprendido boas lições no aquarismo, a gente tá sempre aprendendo. E nesse espírito de compartilhar conhecimento deixo aqui de prosear para dar logo o serviço do monitoramento:

- temperatura: minha cidade é quente a maior parte do ano, com algumas poucas semanas frias no inverno. Se meu aquário fosse um comunitário comum eu teria um termômetro apenas por uma questão de curiosidade. Como é um aquário de inspiração (e fauna) amazônica, eu sempre fico de olho para a água não ficar abaixo de 25ºC. Com aquecimento global e afins, meu aquecedor virou um item decorativo (é muito raro ter temperatura inferior a 27ºC aqui).

- pH: com experiência, conversas e MUITA leitura, aprendi que o pH não é uma zona riscada no chão, e sim uma condição onde a maioria dos peixes flui e se adapta, desde que a mudança não seja brusca. Caiu por terra pra mim o dogma de que discos são peixes de água ácida por causa do pH do rio Negro quando descobri que grandes criadores dos EUA e Europa criam, engordam e reproduzem discos com pH 7.5. Vale ter um teste de pH para checar a água que você usa para encher o aquário e repor TPAs, e de vez em quando fazer testes caso você tenha uma dureza carbonatada baixa (falo mais sobre isso adiante).

- amônia, nitrito e nitrato: durante a ciclagem de um aquário novo eu raramente testo. Em geral a melhor prática é ter paciência, dar uns 15 dias de tempo (um pouco menos se estiver usando acelerador biológico) e aí sim testar, entendendo a sequência amônia - nitrito - nitrato. Depois disso, só testo em caso de algum grande acidente (morte de algum animal, água com aspecto suspeito, suspeita de que a filtragem não está funcionando), mas já sabendo que pra remediar, só mesmo fazendo uma boa TPA.

- dureza geral e carbonatada: só fico curioso com a dureza geral pelo fato de ter aquário de peixes amazônicos, que em sua grande maioria prefere águas bem moles (com baixíssimo teor de minerais dissolvidos). No entanto, vale checar quanto se tem de dureza carbonatada por conta de seu papel tamponador: quanto maior o KH, mais estável fica o pH. Meu aquário por um tempo tinha KH baixíssimo, e com isso o pH costumava variar, quase sempre tendendo a ficar muito ácido. Aí percebi que o melhor dos mundos era ter um KH um pouco maior (entre 4 e 6), porque isso estabilizaria o pH mais perto da neutralidade, e assim teria um ambiente melhor para a maioria de animais e plantas. Logo, eu por via das dúvidas testo o KH aqui quando estou curioso quanto ao pH, e analiso os 2 em conjunto.

Espero ter ajudado quem ainda tinha neura do que monitorar. No dia a dia, acredito que não precisamos sair testando um monte de coisas, mas é bom ter os testes à mão no caso de algo fora do usual. 

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