Quantos peixes cabem no meu aquário?


Este texto tem vários possíveis caminhos, e provavelmente nenhum deles é o que o aquarista iniciante gostaria. Desde que comecei com um instagram dedicado a aquarismo (antes mesmo de eu começar o podcast), boa parte das mensagens que venho recebendo gira em torno dessa dúvida. E infelizmente não tenho uma resposta pronta ou uma regra mágica. Eu geralmente começo a resposta com "Depende". 

Estou longe de ser o radical doutrinador de aquarismo que blasfema todos aqueles que superlotam seus aquários, independente do tamanho. Até porque eu superloto meus aquários desde que me entendo por gente. 😳Eu tendo a acreditar que colocar o máximo de peixes possível é o impulso de todo aquarista que monta seus sistemas baseados nos peixes. Importante esse adendo, porque vejo que os entusiastas das plantas ou do aquapaisagismo "raiz" do Takashi Amano veem os peixes muitas vezes como um mero detalhe. Dito isso, vamos entender primeiro por que não dá pra dar uma resposta simples a essa pergunta.

Há alguns anos você ia em uma loja especializada em aquarismo e, ao proferir a pergunta título desta postagem, recebia como resposta: "É simples: você pode colocar um centímetro de peixe por litro de capacidade do aquário". E aí eu evoco uma das minhas frases prediletas: 

fonte: pensador.com

Tem dúvidas de que é uma regra furada? Então imagine como seria um aquário de 40x20x25cm (20 litros) com um oscar de 20 centímetros? Pois é... Mesmo assim, essa regra até hoje tem adeptos. Muita gente compra aquários de 70 litros já imaginando que pode colocar até 35 neons de 2cm cada. Não é bem por aí. No entanto, a tentação de ter uma fórmula mágica para simplificar a vida do iniciante é grande demais, e com isso você encontra sites internet afora com scripts de cálculo de peixes para um determinado aquário. Alguns eu confesso que são super bem construídos, pois consideram o tipo de filtro que você usa, a vazão do filtro e até o seu manejo sanitário (leia-se quantos % de água trocada por unidade de tempo). E minha resposta vai nessa direção.

Lembrando (de novo) que um aquário por definição é um sistema fechado (se você não considera ainda limpeza da filtragem mecânica, sifonagem do fundo e/ou trocas parciais de água): diariamente você coloca uma quantidade X de matéria orgânica, e essa quantidade vai ser metabolizada pela fauna existente no aquário. Parte disso gerará energia para essa fauna, e um restante será eliminado pelas fezes. Essas fezes, juntamente com outras fontes de matéria orgânica (por exemplo, folhas mortas e restos de comida dissolvida na água), serão metabolizadas pelas bactérias do ciclo do nitrogênio. Só que essa conta não fecha, e com o tempo há acúmulo dos nutrientes gerados, que por sua vez promove um crescimento da população de bactérias - sejam elas benéficas ou não. O processo de filtragem não resolve magicamente este problema, ele só potencializa o ciclo do nitrogênio. E como você resolve o problema intrínseco a um sistema fechado? Removendo periodicamente o excesso de matéria orgânica e o produto resultante de sua metabolização, em outras palavras, limpando os filtros e fazendo trocas parciais. A quantidade de água a ser trocada e sua periodicidade (bem como a de limpeza do filtro) vai variar em função de quanto de fauna você tem no aquário.

E aí voltamos a nossa pergunta com um caminho bom a se percorrer, sem salvar ou condenar ninguém. Primeira coisa a se considerar ao colocar um determinado peixe no seu aquário é o tamanho que ele alcança na idade adulta. "Ah mas esse aruanã filhote é lindo, quando ele crescer eu monto um aquário maior ou repasso para um jumbista". Não, não faça isso. Queremos que os peixes vivam, e não que simplesmente sobrevivam. Com isso a gente pode estabelecer que, pra início de conversa, o peixe a ser colocado tem que ser compatível com  o tamanho do aquário, de modo que ele viva com qualidade em sua fase adulta. Acarás disco em aquários de no mínimo 200 litros para comportar um pequeno cardume, botias palhaço idem, mas podemos ter cardumes de caracídeos em aquários de 70 litros ou até um grupo de ciclídeos anões em aquários de 40 litros. Mas quantos, exatamente? 

E aí eu volto com o "depende", só que trazendo a tiracolo o raciocínio acima do manejo sanitário. Pegando um exemplo fácil: num aquário de 40 litros, eu posso ter 4 casais de guppies vivendo bem. Como são coelhos subaquáticos, em pouquíssimo tempo eles podem passar a ser 10 casais de guppies (e alguns filhotes) e também viver bem. Na prática, quando a população aumentar, você vai colocar mais comida, terá mais fezes, seu perlon ou espuma vai saturar mais rápido e seu aquário vai pedir uma sifonagem com menos tempo. E aí você pode doar alguns peixes, ou topar ficar com esses 10 casais limpando o filtro com maior frequência e fazendo TPAs maiores e com mais frequência. A decisão é toda sua. Mas para não deixar vocês aí com mais perguntas do que quando começaram a ler esse texto, uma sugestão: estabeleça uma meta mental de peixes, mas não coloque tudo de uma vez. Coloque alguns, espere umas duas semanas e observe. Estando o sistema funcionando bem, coloque mais alguns. Repita o processo. Você vai chegar ao seu limite quando chegar num número tal de peixes onde consiga fazer o manejo sanitário ideal à sua rotina, sem perdas de peixes frequentes e sem deteriorar visualmente o seu pedaço de mundo subaquático. 

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