Não preciso fazer grandes introduções para falar de bettas em um blog de aquarismo, certo? Um dos peixes mais bonitos, mais versáteis e mais resistentes do aquarismo mundial. Sua criação também remonta de centenas de anos, só sendo superado pelos kinguios e carpas. No entanto, sua adaptabilidade é ao mesmo tempo uma bênção e uma maldição: em muitos lugares e por muito tempo, bettas são vendidos nas piores condições possíveis - inclusive em petshops das grandes cadeias que sequer tem um setor estruturado de aquarismo, e muito pouco é ensinado para o incauto que viu aquele peixe colorido em um potinho e resolveu levar pra casa para alegrar seu filho ou sua filha.
Na maioria dos casos, o betta não vive, ele SOBREvive (e por pouco tempo). Assim como os demais peixes do aquarismo, é importante entender as melhores condições possíveis para mantê-los em nossas casas. Mas antes, vamos tentar entender o porquê do betta pagar todos os seus pecados em beteiras mundo afora.
Os bettas são peixes anabantídeos oriundos de diversos países do sudoeste asiático, especialmente da Tailândia. Os peixes da família Anabantidae tem como característica um órgão chamado labirinto que confere a eles a capacidade de extrair oxigênio diretamente do ar. Com isso, esses peixes são bastante tolerantes a águas com baixíssima oxigenação, o que favorece também sua multiplicação pelas planícies encharcadas do sudoeste asiático - inclusive nas plantações de arroz tão comuns por lá.
O betta popularmente conhecido no mundo todo é da espécie Betta splendens. Existem centenas de espécies de bettas no sudoeste asiático, mas a que mais prevalece na natureza é a splendens.
Uma característica marcante do splendens em relação às outras espécies é sua agressividade: os machos defendem fortemente seu território, especialmente de outros machos, e alguns especialistas atribuem essa agressividade ao fato do splendens ser o mais difundido por lá. Essa agressividade também trouxe uma notoriedade ao betta desde sua domesticação, há cerca de 1000 anos atrás.
Existem registros de bettas colocados para brigar com apostas vultosas desde o século XVIII na Tailândia. Com isso, a necessidade de um betta macho viver sozinho é um dos grandes dogmas do aquarismo moderno. A solidão forçada, aliada a baixa exigência do betta por condições básicas para outros peixes (iluminação, filtragem, aeração) criou o mito de que os bettas devem viver em pequenos aquários, alguns com menos de 1 litro de capacidade, que são popularmente conhecidos como beteiras. Mas felizmente este mito vem caindo por terra na última década.
Como qualquer outro peixe, o betta precisa de um aquário com mínimas condições para sua sobrevivência. O peixe vive em seu habitat em grandes regiões vegetação baixa inundada, com muitas plantas e refúgios. Logo, se sente muito mais confortável em um aquário com muitas plantas. Embora ele sobreviva em um cubo sem qualquer decoração ou plantas, é preciso garantir ao menos que este aquário tenha temperaturas estáveis e não apresente picos de amônia ou nitrito em função da presença de material em decomposição (restos de comida ou fezes). Com isso, as beteiras vem dando lugar para pequenos cubos plantados, que são um ótimo habitat para bettas. Na natureza, bettas vivem entre 2 e 4 anos, mas em aquários bem cuidados não é raro viverem mais de 5 anos. Além disso, é importante frisar que a agressividade dos bettas é direcionada a outros exemplares da espécie (principalmente machos) - outros peixes e invertebrados podem conviver com seu betta, se o aquário assim permitir. Eu por exemplo tenho caramujos e alguns neocaridinas no cubo do meu betta aqui em casa.
Hoje, além de ter um peixe fácil de cuidar, podemos ter também um pequeno pedaço de vida aquática em nossas casas. Para quem compra para filhos pequenos, mais do que criar seu primeiro animal de estimação, nossos filhos aprendem como cuidar de um pequeno ecossistema. E se quiserem ouvir mais detalhes sobre o betta, ouçam este episódio do podcast Aquarismo para Todos. Um abraço a todos e até o próximo texto!